
Eu tenho muita resistência à palavra atitude. Reconheço que é uma palavra bonita, encorpada, com uma entonação que parece se adaptar muito bem aos grandes líderes, sejam eles presidentes, generais e principalmente ao Jack, o cara que comanda todo mundo lá no seriado LOST. Na boca da Angelina Jolie então, fica maravilhosa.
Eu só não gosto do uso da palavra atitude no ambiente do futebol. E isso não é de agora, vêm desde 1998, quando a ouvi pela primeira vez na boca de Galvão Bueno tentando explicar aqueles patéticos 3x0 para a França. Segundo ele faltou atitude ao time. Fiquei pensando com meus botões: mas que diabos esse cara quer dizer com atitude? Seria vontade de vencer, fazer jus ao salário ou a óbvia responsabilidade profissional? Eu acho que ele não quis falar, mas aposto todas as minhas fichas que o cara estava falando de vergonha na cara. Só pode ser isso, porque "faltou atitude" não significa nada, apenas abre brecha para que a gente pense o que quiser.
PALAVRINHA NO JOGO
Antes do jogo de ontem, contra o Metrô, o técnico Silas garantiu que o time mudaria de atitude (olha ela í). Mudou? Sei lá, sei apenas que o time fez o óbvio, ganhou do lanterna do campeonato, e isso com um verdadeiro bombardeio da meta adversária. Será que o time criou vergonha na cara, ou melhor, teve outra atitude? Segundo ele, sim: “Acredito que a mudança de atitude ficou clara, do time todo. Logicamente que com essa postura a gente vai ter mais alegria do que tristeza, hoje a gente deu uma amostra do que o Avaí é capaz”, disse Silas em entrevista coletiva após a partida. Mas eu continuo encafifado: o que seria essa tal atitude?
REALIDADES DIFERENTES
Creio que não comentei aqui com você, caro blogonauta, um pensamento que tenho em relação ao futebol catarinense: na minha opinião Criciúma e Joinville até podem incomodar, mas o título de campeão catarinense deve ser sempre disputado entre Avaí e Figueirense. Isso mesmo, em cada dez campeonatos, a capital tem a obrigação de ficar com pelo menos oito títulos. As razões para isso são muitas, mas destaco a força das torcidas, o fato de toda a imprensa estar sediada aqui e, principalmente, por Floripa ser a capital do estado. Com raras e honrosas exceções, em todo planeta os times da capital ou dos maiores centros urbanos é que dominam o futebol. Nem precisa ir muito longe, basta dar uma olhadinha aqui mesmo em terras tupiniquins.
VAI ENTENDER
É muito difícil engolir os pontos que perdemos para times minúsculos de SC. São realidades muito diferentes: estádios, torcida, folha de pagamento, tradição, plantel, enfim, é mais ou menos como batom na cueca, não têm explicação. Como também não tem como explicar porque só ontem, no último jogo do turno e já desvalidos de possibilidades, o time resolveu ter verg... digo, atitude. Eu acho muito engraçado essa permissividade no futebol, o cara não têm atitude e continua lá, sendo tratado à pão-de-ló e ainda sendo incentivado com premiações por vitórias. O cara é premiado por fazer aquilo para o qual ele foi contratado. Esquisito.
AH, SE FOSSE LÁ EM CASA
Quando eu era pequeno a mãe mandava arrumar o quarto. Eu ia lá e arrumava. Depois cresci um pouco e ela já não precisava mais dizer o que eu tinha que fazer. Mas de vez em quando eu ia além, organizava o guarda-roupas, por exemplo. De pronto a D. Leni tascava aquele gostoso "Parabéns, meu filho". Mas fora isso, tudo normal, não era mais que minha obrigação. Afinal, ela e meu pai garantiam comida, roupa, escola e uma ida à ressacada vez por outra. Hoje levo isso para minha vida profissional: atendo todos os meus clientes com atitude todo santo dia, e ai de mim se não for assim: é pé-na-bunda garantido.
No mais, nada a declarar sobre a rodada de ontem: ganhou o título quem deveria ter ganho, levou chinelada quem deveria ter levado mesmo e só. Que venha o segundo turno, com os jogadores do Avaí jogando futebol e "arrrumando os seus guarda-roupas" de vez em quando. Não é nada demais, mas aposto que o Silas vai elogiar.